A saudade e a fotografia

Hoje nosso encontro aqui no blog acontece em uma data dedicada a lembrar das pessoas que já não estão mais entre nós. E fiquei pensando em quanto a fotografia tem em comum com a saudade, com o eterno …  Tem uma frase de Mario Quintana que diz: “A saudade é o que faz as coisas pararem no tempo”. A fotografia também.

Então lembrei de duas pessoas incríveis que tive a honra em fotografar e que, infelizmente nos deixaram. Olhando para os retratos de cada uma, as sinto tão vivas! Os olhares são tão expressivos, os sorrisos tão abertos, os rostos tão iluminados que as sinto presente. E, o sentimento de tristeza sutilmente é substituído pela alegria de ter compartilhado aquele momento com elas e, de alguma forma, tê-las homenageado em vida e eternizado aquele momento para sempre, através da fotografia.

Uma delas é a apresentadora de televisão Graça Araújo. Era março de 2018 e eu estava fazendo o projeto sobre a força do retrato. Dirigida por Evandro Veiga, considerado um dos maiores retratistas do Brasil, fotografei personalidades do Recife em seus ambientes de trabalho. Todos exemplos de sucesso em suas profissões e formadores de opinião. Graça foi uma delas. Quando vejo o retrato que fizemos, força é a primeira característica que me vem à cabeça. Graça foi mulher forte, segura, assertiva. Impôs respeito, imprimiu sua marca. Mas foi um caminho trilhado por muitos anos, todos de atuação de competência inquestionável. Negra, mulher, de origem pobre, conquistou um lugar de grande destaque e reconhecimento na profissão que escolheu e pela qual era apaixonada. Sua voz chegava antes dela e mostrava, não o tamanho da sua estatura real, mas o tamanho do seu poder, da sua força, da sua autoconfiança e na confiança pelas coisas que defendia. Foi essa força, esse carisma que tentei eternizar no seu retrato e acho que consegui. Infelizmente, seis meses depois ela sofreu um AVC e não resistiu. A fotografia que fizemos, exibida antes na coluna social foi escolhida por uma amiga em comum para ser impressa nos santinhos da sua missa de sétimo dia. Penso que cada pessoa querida pôde levar consigo aquele sorriso, aquela presença forte eternizada em forma de papel.

Em maio do mesmo ano, realizamos o projeto Retratos de Mãe com 18 personagens reais dos artigos da jornalista pernambucana Sílvia Bessa. Todas mulheres protagonistas na família e na sociedade. O retrato do povo brasileiro: afetuoso e capaz de ressignificar suas vivências em atos de coragem, mas sem perder a ternura e a delicadeza.

Entre elas estava Daniele Santos. Em 2015 Daniele teve um filho com microcefalia e foi uma das primeiras mães a expor o caso, dar entrevistas, alertar e pedir ajuda para seus filhos e os outros bebês que também nasceram com a Síndrome Congênita do Vírus Zika. Era, como disse Silvinha, uma mãe dos novos tempos, preocupada com os outros. Sempre sorridente e serena, tornou-se comum ver Daniele concedendo entrevistas para veículos do Brasil e do exterior, devassando sua intimidade. “Esta não é uma causa só minha, por isso procuro ajudar no que posso”, ela nos disse. Além de Juan, era mãe de Jennipher. Fico feliz em ter participado dessa homenagem à sua maternidade, desse reconhecimento à sua atitude tão forte, corajosa e amorosa. Anos depois, ela não resistiu a um câncer.

Enfim, duas mulheres incríveis que levo na memória e no coração. Porque como disse Olavo Bilac, “saudade é a presença dos ausentes”. Graça Araújo e Daniele Santos presentes!

Um abraço,

Andréa Leal

andrealealfotografia

Eu sou Andréa Leal, e sempre achei importante que a minha fotografia falasse por mim.

Deixe um Comentário





Últimos Posts