Miguel, vidas negras importam

“Tomara, meu Deus, tomara. Uma nação solidária. Sem preconceito, tomara. Uma nação como nós”. O trecho da música de Alceu Valença parece uma oração. Tão bom que ela ecoasse aqui no Recife, em todo o país, pelo mundo afora. A humanidade vive um dos momentos mais difíceis diante de uma pandemia mortal e, em um momento que deveria ser só de união, infelizmente, vemos aflorar a desigualdade social, o preconceito racial, econômico. E os crimes se sucedem aqui no Recife, nos Estados Unidos… A sociedade está doente e não é da Covid-19. A sociedade está doente de falta de amor ao próximo. Um vírus que mata milhares e afeta, em escala gigantesca, ainda mais os negros e pobres como o pequeno Miguel, de apenas 5 anos de idade.

Quando deveria estar em casa, com a família, protegido, como nossos filhos estão, o menino foi levado para o emprego da mãe, uma trabalhadora doméstica que, apesar de ter direito a permanecer em casa recebendo seu salário,  tinha que quebrar o isolamento para cuidar da casa dos patrões. Enquanto levava os cães da família para passear, essa mãe teve seu próprio filho negligenciado pela patroa, que teria o dever de zelar pela vida de um inocente em sua casa, sob sua responsabilidade.

Um crime desencadeado por tantos outros. A escravidão, a exploração, a segregação racial nunca deixaram de existir. Ainda há quem ache que a vida de uma pessoa negra não tenha valor, não tenha importância. Aqui ou em um dos países mais ricos do mundo como os Estados Unidos, onde a vida de um homem negro também não foi poupada pela polícia.

Onde isso vai parar? Que lições a sociedade ainda precisa aprender para crescer? Para ser digna de ser chamada de humanidade? Desumanidade é o que vemos. Um vírus avassalador tenta mostrar que todos somos iguais, que ricos e pobres morrem da mesma maneira, que homens milionários morrem sentindo a falta de algo que é gratuito como o ar que respiramos. Esse vírus nos ensina que a sociedade que não cuida da saúde da população pobre vai ser infectada por ela. E isso independe da raça, da orientação sexual, do nível de escolaridade… Somos todos iguais e estamos perdendo muitos de nós para esse vírus chamado preconceito. Até quando?

Durante todo o período em que temos esse espaço de conversa aqui no blog tenho me dedicado a escrever sobre assuntos que nos trazem felicidade, nos edificam, nos fazem bem. Mas neste momento, como mãe, é impossível pensar ou escrever sobre outro assunto, quando o que me vem a cabeça o tempo todo é o rosto de Miguel, a dor de Mirtes e a dor que todos nós sentimos com essa perda trágica e irreparável. Deixo a todos vocês meu sentimento e o desejo de gerar alguma reflexão.

(Imagem da Capa: Thais Cavalcanti – @ilustrathais)

Um abraço,

Andréa Leal

andrealealfotografia

Eu sou Andréa Leal, e sempre achei importante que a minha fotografia falasse por mim.

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