Família x tecnologia: os novos desafios e estratégias para conseguir equilíbrio emocional

Esta semana quero conversar com vocês sobre um tema urgente na vida de todas as famílias: a tecnologia. Quero trazer a todos o aprendizado que tivemos a oportunidade de proporcionar durante palestras oferecidas gratuitamente em nosso espaço na Baby Kids. A querida jornalista Cláudia Bettini, do site Corujices, e Eduarda Morais, terapeuta Tethahealing e Mindfulness falaram sobre os novos desafios e estratégias para conseguir equilíbrio emocional apesar do avanço desse mundo virtual sobre o mundo real. Coisa tão necessária atualmente, não é?

Foi uma palestra que me tocou muito porque a fotografia tem muito com essa pausa para eternizar o que nos faz felizes e por isso prezo tanto pelas imagens impressas e não as que ficam apenas nas redes sociais. Uma frase dita por elas foi um resumo da nossa conversa:  “Um viva às coisas que são vividas e não postadas”. Como foi bom ouvir sobre a importância de vivenciar a experiência com os olhos e não na tela, aguçar os sentidos, lembrar sempre que o excesso adoece e que a única coisa que não adoece é o de amor e que, com ele, sempre é possível fazer o caminho de volta. Amanhã a gente pode fazer diferente e não é porque a gente foi assim até hoje que e vai ser assim pra sempre. Espero trazer pra vocês essas orientações que fizeram diferença pra minha vida.

Eduarda e Cláudia lembraram que as crianças hoje são diferentes mas, na verdade, tudo hoje é diferente:  nossa relação com o trabalho, com a tecnologia e a gente precisa lidar com tudo isso. “Educamos nossos filhos e netos enquanto nos educamos e o desafio das tecnologia é para as criança e para os adultos também. Nós fomos criados na era analógica, mas nossos filhos já nasceram numa época com tudo a um clique. Isso traz facilidades e consequências nem sempre positivas. Fazer o bom uso e  não sofrer as consequências negativas do uso desenfreado da tecnologia é o desafio”, aponta Eduarda. 

“Lembro de ver minha avó sentada no banco da praça. Eu ficava olhado e ela não estava fazendo nada, não tinha preocupação de estar fazendo alguma coisa o tempo todo. Podemos um momento de introspecção, elaborar a rotina o dia seguinte, pensar no que está acontecendo na nossa própria vida. Ao invés disso, quando a gente vai relaxar pega o celular e essa velocidade com que as coisa se movem na tela não é velocidade da nossa vida. Na nossa vida a gente tem que esperar as coisas acontecerem”, acrescenta.

Cláudia lembrou ainda que nesse momento digital a gente tem perdido a resiliência e a capacidade de esperar. E, muitas vezes, quando a gente para de fazer alguma coisa, acaba pegando o celular para se ocupar e deixa de preencher esse tempo de contemplar a vida. “Quando gente quer que as crianças esperem um momento. a gente dá o celular, mas elas não estão esperando, estão se ocupando. Eu sei que às vezes pode parecer entediante, chato. Ninguém mais tem esse tempo de parar para refletir e olhar. As pessoas às vezes não param para olhar. Estão só ocupadas. Cada vez menos têm se permitido esse espaço de calma dentro de si”. 

Isso tudo gera consequências na gente e nas nossas crianças . Sem pausa para refletir, achamos normal ser ansioso e adoecer por causa dessa ansiedade. Essas sensações entram no corpo da gente e se essa ansiedade perdura a gente tem que investigar isso. O resultado são pessoas estressadas, com distúrbio do sono, tomando remédio para encarar a vida, crianças diagnosticadas muito cedo com hiperatividade, TDAH, autismo, ansiedade. 

Cláudia, que é mãe de Lis e Theo, falou também de sua experiência pessoal: “A vida não passa no celular e é quando a gente tira o olho do celular que a vida passa. A gente vai pro restaurante com os filhos e quer comer e conversar em paz e dá o celular para as crianças. A gente também não sabe fazer essas escolhas e tudo que gente quer é que as crianças aprendam, mas são faltas nossas. A gente não sabe esperar. Mas tudo isso faz parte do aprendizado. O que a maternidade/ paternidade tem de mais especial é que você tem a oportunidade de enxergar o quanto você tem que evoluir pra que seu filho chegue também nessa evolução. Foi através de meus filhos que eu descobri o porquê de muitas angústias minhas e descobri como livrar disso. Pra mim não basta só ter no Corujices uma agenda de programação infantil, a  gente quer ter a mais completa. Quando não tenho, aquilo me angustia e isso faz com que eu nunca pare de trabalhar. Quando vejo que meu filho não fez a tarefa da escola porque ainda está na TV, eu vejo que eu também não fiz algumas coisas porque ainda estou trabalhando. É uma consciência que eu também tenho que ter”.

Eduarda lembra que a TV é muito atrativa. Os pais acham bom quando os filhos estão na “babá eletrônica” , mas que podemos oferecer outras coisas com as quais eles também vão se distrair.

Para Cláudia, muitas vezes a tecnologia é escolhida para evitar o risco de se machucar, de quebrar algo em casa. Mas se machucar faz parte. “As crianças podem subir e descer das coisas sem precisar ser orientados o tempo todo, precisam conhecer o próprio corpo. Às vezes a gente está privando nosso filhos de certas coisas como, por exemplo,  sujar a roupa. Mas, que roupa é essa que não pode ser lavada?”, questiona.

A terapeuta fez um convite para olhar pra dentro da gente. “Tem uma frase muito usada: ‘A palavra ensina, mas o exemplo arrasta’. Como a gente vai ajudar nossos filhos a construírem um lugar de calma se a gente não consegue fazer isso com a gente?  Ter um lugar de calma pode ser pegar um livro, deitar e ficar no ócio, largar o celular, conversar sem o celular na frente… Quando você faz isso, desacelera e agora é uma excelente hora pra mudar e deixar claro para as crianças: de que é difícil para os pais também”.

Cláudia apontou estratégias para as crianças que pedem um celular. Segundo ela, vale questionar: para que quer o celular? Para falar com os amigos? Não precisa. Vai encontra-los na escola todos os dias. Para marcar alguma coisa fora da hora da aula? Tem o celular dos pais dos amigos. Não existe mais pra que. Criança não tem maturidade para ter para conseguir esse equilíbrio, para saber como usar a tecnologia. 

As duas são unânimes: é preciso um reflexo pra dentro. É hora de se perguntar: Qual a questão que eu tenho pra querer oferecer o celular ao meu filho? O que lhe agita a e o que lhe acalma? É preciso entender que quando a TV sai de cena outras coisas têm que entrar em cena. Por isso é bom refletir sobre essa disponibilidade. Estamos emocionalmente disponíveis? A gente quer ocupar esse espaço? É preciso ter paciência. Vinte minutos depois da reclamação do tédio, a imaginação, que estava desativada porque a TV estava ligada, começa a funcionar. A gente precisa confiar que nossos filhos sabem como brincar. A gente pode não estar disponível o tempo todo. Mas também precisa disponibilizar o tempo, nem que sejam 20 minutos para estar 100% ali. Faça um teste. Após esse tempo, seus filhos vão estar abastecidos. A coisa mais importante que a gente tem pra dar é presença e para dar, a gente precisa dar pra gente mesmo primeiro. 

Lembrar da nossa infância também ajuda a apontar soluções. “Quando eu era criança não existia celular e os restaurantes ofereciam no máximo um papel pra desenhar. Quando não tinha, a gente inventava mesmo. Quando a gente saía nem sabia para onde estava indo. Hoje dizemos tudo antes para as crianças e isso gera uma ansiedade. A gente vive o tempo do futuro, esquece do presente e depois reclama. É hora da gente começar a rever esse comportamento automático, fazer os filhos sentirem a emoção de serem surpreendidos com o destino do passeio, permitir o prazer de ter um olhar de principiante”.

Eduarda lembra que a evolução da tecnologia também causa essa ansiedade: “A gente compra um celular e dias após a compra ele já está “ultrapassado”. Isso faz com que a gente acredite que sempre está precisando de mais. A mesma coisa acontece com a nossa vida. Mas, o que devemos é nos habituar a ser feliz com o básico, a curtir, a viver presente com simplicidade e não ficar cultivando uma falta, imaginar sempre amanhã vai ser melhor que o hoje. As crianças quando ganham um presente já estão pensando quando vão ganhar o próximo e isso adoece”.

Segundo ela, há dois tipos de insatisfação: a positiva é a de querer melhorar e a negativa causa tristeza e aborrecimento. A gente não pode olhar o palco dos outros no Instagram e comparar os nossos bastidores. É preciso entender que a maternidade nunca vai ser perfeita, mas essa busca para melhorar sempre vai existir. 

Para Cláudia, não adianta proibir youtube , mas adianta construir com eles e discutir sobre os efeitos que isso causa e criar um ambiente crítico. Uma saída é procurar os conteúdos do youtube que são legais. O mais preocupante é não saber o que eles estão vendo. Fazer os filhos refletirem sobre essa qualidade é validar com ele esta decisão. Se você impõe é uma briga de poder e eles podem facilmente questionar: porque podia até ontem e hoje não pode mais? Vale dizer: “olha o que acontece quando você fica muito tempo na TV” . E ensinar como fazer diferente. Não adianta tratar a criança sem olhar pra você. Se você é muito ansioso para se concentrar é preciso mudar. Seu filho precisa ver que você também faz aquilo que você está esperando que ele faça. É como mudar a alimentação de toda a casa.

Foram muitas dicas preciosas que Cláudia e Eduarda ensinaram. Seguem todas aqui pra vocês:

– Criar nossas próprias estratégias e fazer um comprometimento conosco mesmos. 

  

– Reduzir a exposição à tecnologia de hora em hora. Não pode ser de uma vez. Fazer combinados, validar  a diferença no comportamento após a mudança. Não encarar como um castigo, mas como um benefício. Valorizar cada momento. 

– Retomar ou reforçar a conexão com a natureza. Ela nos conecta muito com o momento presente. Quando a gente se sente estressado, um banho de mar, andar descalço na grama, olhar as flores no jardim, mesmo que seja do prédio, olhar para céu, deitar no chão olhando as nuvens, deixar que os filhos digam o que estão vendo. Tanto eles quanto vocês precisam dessa experiência. Vocês estão de mãos dadas vivendo isso.

– Outra orientação importante é fazer com que a criança pense como vai resolver suas crises de ansiedade ou agressividade. Isso faz com que ela tenha responsabilidade e compartilhe a decisão sobre como vai fazer. Muitas vezes, a pessoa se torna um adulto sem conseguir resolver problemas e exige de uma criança que ela tenha o controle que não tem. Essa é uma habilidade para a vida. 

– Observar o que agita e o que acalma. Por exemplo: olhar o WhatsApp antes de dormir dificulta o sono.

– Na hora de dormir, quando a criança não se acalma, é preciso evitar a combinação que deixa as crianças agitadas: açúcar , pouco espaço e tecnologia. “É o mesmo que ligar um liquidificador sem tampa. A criança não é agitada. Ela está agitada pela vida que está levando. É sempre é um pedido de socorro”, acrescentou Eduarda.

– Exercício em busca de tranquilidade : fechar os olhos por 10 segundos, colocar a mão na barriga, sentir a respiração. Quando fazemos isso,  a gente para um pouco para nos perceber. No dia-a-dia, vamos fazendo as coisas atendendo à demanda dos que estão nosso redor e não prestando atenção no que a gente está sentido vontade de fazer. “A respiração acontece no presente, agora, nem no passado, nem no futuro. Quando colocamos a mão na barriga temos um momento de consciência, algo que está  faltando na vida agitada.  

– Outro exercício ensinado para relaxar é respirar contando até 10 e fazer uma  massagem na cabeça descendo no coro cabeludo todo. Outra dica é deitar de barriga pra coma e colocar um brinquedo ou bichinho de pelúcia no meio da barriga e observar bichinho subir e descer. Isso ajuda a acalmar uma crise de ansiedade e ensina a como respirar.

– Outra dica de respiração é  fingir que cheira uma flor (na inspiração) e sopra uma velinha de aniversário (na expiração).

 

– Muitas dessas dicas estão no Instagram @a.cor.da.terapias, que traz exercícios de mindfulness para crianças e adultos.

– Tem também sugestão de livros: 

“Quietinho feito um sapo- Exercícios de meditação para crianças e seus pais”, de Elien Snel

“Mindfulness para pais”, de Lauta Sanches 

“Meditação para crianças”, de Susan kaiser Greenland 

“Brincando de Mindfulness”, um baralho com 50 sugestões de práticas, de Patricia Calazans. 

– Como exercício de estimular a imaginação, outra dica legal é a Rádio Matraquinha, uma oportunidade de só ouvir e imaginar. O programa vai ao ar todos os sábado às 8h na Rádio Frei Caneca e às 11h na Rádio Folha, com temas diferentes. 

Enfim, um aprendizado muito importante para nossos filhos e para nós também. Vamos aprender juntos e nos esforçar sempre pra termos dias mais saudáveis e felizes em família.

Um abraço,

Andréa Leal 

andrealealfotografia

Eu sou Andréa Leal, e sempre achei importante que a minha fotografia falasse por mim.

Deixe um Comentário





Últimos Posts